Por Erika de Souza Bueno *
Antes de começarmos a refletir sobre as características das duas formas de preconceitos apresentadas no título deste artigo, é interessante sabermos o que a lexicografia (técnica de elaboração de dicionários – Aulete Digital) considera como definição para a palavra preconceito:
1. Opinião ou ideia preconcebida sobre algo ou alguém, sem conhecimento ou reflexão; Prejulgamento. 2. Atitude genérica de discriminação ou rejeição de pessoas, grupos, ideias etc., em relação a sexo, raça, nacionalidade, religião etc. (preconceito racial); Intolerância.3. Ideia ou juízo fundado em crendices e superstições; Cisma. (Aulete Digital).
Desta forma, pode haver manifestação de ideias preconcebidas, assim como comportamentos preconceituosos, os quais poodem inibir a livre manifestação do pensamento por meio de ações e, até mesmo, por meio da fala, ao se expressar de uma maneira que pode não agradar a quem a mensagem é direcionada. Aqui, neste caso, tem-se características de preconceito linguístico, ou seja, uma discriminação ou intolerância que atinge diretamente o indivíduo-falante, que não se sente livre para expressar seus pensamentos, opniões e críticas, desencadeando uma série de problemas sociais, uma vez que a cidadania não se torna efetiva diante deste tipo de preconceito.
Sabe-se que este assunto é pouco comentado, pois é comum termos mais acesso a materiais e conteúdos sobre o preconceito social, o qual, como veremos a seguir, tem “vínculos diretos” com a forma de discriminação linguística.
Segundo Marcos Bagno, a ideia de preconceito linguístico igual ao preconceito social, surgiu por volta do ano III a.C, em que os formuladores da Gramática Tradicional defendiam que a “Língua Exemplar” só era falada por um grupo restrito de pessoas, a saber: pessoas do sexo masculino, livres (não escravos), membros da elite cultural, cidadãos (eleitores e elegíveis), membros da aristocracia política e detentores da riqueza econômica.
Estes mesmos formuladores também perceberam duas grandes características das línguas humanas, que são a variação no espaço e mudança no tempo, mas essa percepção foi tida de forma negativa. Os primeiros gramáticos concluíram que a língua falada era caótica, uma vez que se ausentava de regras e, por isso, deduziram que somente a língua literária merecia ser estudada para servir de modelo do bom uso do idioma, tendo assim uma visão pessimista da mudança natural que ocorre em nossa língua.
Ora, a língua é viva e sabemos que é característica inata dos seres vivos se modificarem. Um fato que comprova esta afirmação é o chamado neologismo, estudado em várias aulas de língua portuguesa. Neologismo é, basicamente, o uso de palavra ou expressão nova necessária para estabelecer comunicação. Há, na verdade, muitas palavras novas que advêm dos avanços tecnológicos ou das fantásticas e indispensáveis descobertas medicinais.
Não se pode cegar diante da verdade, ainda que inquietante, de que muitas palavras novas são inseridas em nosso idioma pela grande massa populacional, ou seja, não são inseridas por estudiosos ou defensores da língua e, sim, pessoas comuns, muitas vezes de escolaridade pequena. Isto ocorre porque as pessoas se veem em frente à necessidade de comunicação, precisam conversar, transmitir um pensamento, se fazerem entendidas.
Isto é natural, com o tempo vão surgindo novas palavras, é um processo que não pode ser impedido, ridicularizado e nem esnobado em nossas escolas, pois elas acompanham o desenvolvimento do bom cidadão.
Este mesmo cidadão necessita falar e ser aceito na sua fala, não, simplesmente, pela construção oracional que teve capacidade de realizar, mas sim pelo significado e importância que há nas suas palavras dentro de determinado contexto, ainda que tidas, por alguns, como sendo simplistas ou incorretas gramaticalmente.
Desta forma, há que defendermos que o sujeito falante deve ser ouvido e entendido, ainda que este desconheça regras da gramática tida como padrão e, com isso, a cidadania de todos seja zelada, a qual contribui para uma vida melhor em sociedade.
* Consultora-Pedagógica de Língua Portuguesa do Planeta Educação. Professora de Língua Portuguesa e Espanhol pela Universidade Metodista de São Paulo. Articulista sobre assuntos de língua portuguesa e família. Editora do Portal Planeta Educação (http://www.planetaeducacao.com.br/).
Fonte: Planeta Educação
Fonte: Planeta Educação
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